AF Campo - Moção
A Freguesia de Campo, como por todos é conhecido, foi e é zona de indústria de extracção de ardósia (lousa).
O progresso da tecnologia levou a que a substituição do homem por modernos equipamentos permita que, no presente, a indústria de extracção e transformação de ardósia não tenha qualquer comparação com um passado não muito distante, em que o extrair e o transformar a ardósia, (lousa) era feito a braço e em condições sub-humanas, que levaram à ruína e à morte prematura, através da terrível silicose «tuberculose» tantos homens e mulheres da nossa terra e não só, para além dos efeitos que ainda hoje se fazem sentir, em trabalhadores das minas daqueles tempos, que apesar de todas as dificuldades próprias e inerentes àquela profissão, ainda vão resistindo.
Foram gerações envolvidas num processo, em que para uns, era o ouro negro; para outros, era a negrura dos míseros salários e o verem-se abandonados ao mais pequeno sinal de fraqueza sem uma reforma minimamente digna.
Apesar das difíceis condições de luta, melhores dias foram alcançados; e os mineiros e afins, viram minimamente reconhecida a sua situação, com a criação do subsidio de doença profissional, mais conhecido pelo subsidio do pó, que vinha amenizar até certo ponto a sua situação, uma vez que o mesmo permitia em parte, comprar medicamentos para combater a doença contraída no exercício da profissão.
Minimamente, porque a uma grande parte dos trabalhadores, foi-lhe atribuída uma percentagem de 10, 15, 20 e 30 por cento de “pó”, quando a olho nu, toda a gente reconhece, que a realidade aponta para uma percentagem manifestamente superior.
Vitimas pela segunda vez
À medida que o 25 de Abril de 1974 fica cada vez mais longe e quando menos se poderia esperar, porque quase todos os dias, se anunciam indemnizações de sacos de dinheiro, aos administradores de grandes empresas; os trabalhadores do sector da indústria mineira da nossa terra, cada vez mais idosos e também por isso mais precisados, porque a doença se faz mais sentir e é mais necessário combater; estão a ser violentamente castigados, ao verem-lhes ser cortadas as reformas já de si miseráveis, com o argumento de já terem o subsídio do “pó”.
Estão em causa, cortes a reformas de 330 euros; 66 contos, uma vergonha.
Por tão flagrante injustiça, contrária ao espírito do 25 de Abril.
A Assembleia de Freguesia de campo, reunida em sessão ordinária delibera.
Manifestar o repúdio por tal situação; e apelar ao governo, através do Ministério da Segurança Social, que rectifique tamanha injustiça através dos meios legais ao seu dispor; e para que sejam anulados os cortes nas reformas atrás descritas; e que sejam actualizados os vencimentos até aqui cortados, com a devida actualização.
A enviar: ao Primeiro Ministro, ao Presidente da República, ao Ministério da Segurança Social e à Assembleia da República.
E com o pedido de publicação: ao Jornal de Noticias e aos Órgãos de Comunicação Social do Concelho.
Esta moção foi retirada, para dar a oportunidade a todos de confirmar esta injustiça.
Porque a uma grande parte da Assembleia custou-lhes acreditar nesta realidade.
A CDU assumiu o compromisso de a voltar a apresentar na próxima Assembleia.